Agentes do Grupo de Operações Especiais (GOE) cumpriram, na manhã desta quarta-feira (19), novas ações da Operação Alvitre II na Câmara de Vereadores de Ipojuca. A ofensiva integra a investigação conduzida pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) em parceria com a Polícia Civil, que apura o desvio de recursos provenientes de emendas parlamentares no município.
As ações desta quarta ocorrem um dia após a prisão dos vereadores Flávio do Cartório (PSD), presidente da Câmara, e Professor Eduardo (PSD), primeiro vice-presidente. Segundo a Polícia Civil, ambos foram flagrados com R$ 17 mil em espécie e uma lista com nomes ao deixar um supermercado no Recife.
A nova fase da operação acontece pouco mais de um mês após o início da investigação revelar irregularidades no repasse de emendas ao Instituto de Gestão em Políticas Públicas do Nordeste (IGPN) e a entidades vinculadas ao grupo investigado. Nesta etapa, foram cumpridos 22 mandados judiciais, sendo três de prisão e 19 de busca e apreensão em endereços relacionados aos suspeitos. As ordens judiciais também determinaram bloqueio de ativos financeiros, sequestro de bens e suspensão do exercício de funções públicas, medidas autorizadas pelo Juízo de Garantias.
De acordo com a Polícia Civil, a investigação, iniciada em outubro de 2024, apura a prática de crimes como corrupção passiva, peculato, lavagem de dinheiro e falsificação documental. A primeira fase da operação, deflagrada em 2 de outubro, já havia resultado na prisão das advogadas Edjane Silva Monteiro e Eva Lúcia da Silva Monteiro, além de uma mulher ligada a uma faculdade investigada. As irmãs, segundo a corporação, seriam responsáveis por produzir documentos usados para encobrir movimentações financeiras irregulares envolvendo o IGPN e outras instituições, entre elas a Associação Rede Vhida, sediada em Caruaru.
O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) converteu a prisão preventiva das advogadas em prisão domiciliar, sob o argumento de ausência de Sala de Estado-Maior no presídio feminino. Elas estão submetidas a monitoramento eletrônico e proibidas de manter contato com outros investigados.
As investigações apontam que o IGPN recebeu aproximadamente R$ 39 milhões em três anos por meio de emendas parlamentares destinadas a serviços de saúde que, segundo apurações, não eram realizados ou apresentavam indícios de superfaturamento. A promotora Katarina Gouveia, do Gaeco, destacou que o valor representa cerca de 2% da receita municipal de Ipojuca, ressaltando o crescimento expressivo dos repasses: de R$ 2,28 milhões em 2022 para R$ 25 milhões em 2025. Dos 13 vereadores do município, nove teriam destinado recursos ao instituto.
O delegado Ney Luiz Rodrigues informou que alguns mandados de prisão continuam pendentes, incluindo os que miram gestores das entidades envolvidas e o suposto líder do esquema. Ainda segundo a Polícia Civil, o grupo utilizava CNPJs de associações antigas para conferir legalidade às operações e repassava serviços a instituições cujas atividades apresentavam fortes indícios de superfaturamento ou sequer existiam.

