Na próxima segunda-feira, 19 de maio, Vitória de Santo Antão será palco de uma ação que vai muito além da sala de aula. O município recebe a iniciativa “Educar é Proteger”, promovida pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), por meio do Comitê Gestor da Primeira Infância e do Centro Especializado de Acolhimento às Vítimas de Crimes e Atos Infracionais (CEAVida).
O evento acontece na UNIFIACOL, das 8h30 às 12h, e tem como foco a formação de gestores, coordenadores e professores da rede municipal de ensino, capacitando-os para identificar sinais de abuso, acolher crianças em situação de vulnerabilidade e acionar corretamente os mecanismos de proteção.
A escolha da data é simbólica. O evento ocorre um dia após o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, lembrado em 18 de maio. A data homenageia Araceli Crespo, menina de 8 anos brutalmente assassinada em 1973, e é um marco na luta contra a violência sexual infantojuvenil no Brasil.
Em Pernambuco, 70 denúncias diárias envolvem crianças pretas e pardas, contra 43 envolvendo crianças brancas e amarelas. A violência sexual infantil também tem cor, e a cor da vulnerabilidade no Brasil ainda é a da periferia.
Mais assustador ainda é o índice de reincidência: duas em cada cinco vítimas retornam com relatos de novos abusos, revelando falhas graves na rede de proteção e acolhimento.
A iniciativa do TJPE conta com a expertise do CEAVida, espaço criado em 2023 no Centro Integrado da Criança e do Adolescente (CICA), no Recife. Mais que um local de atendimento, o CEAVida é um modelo humanizado de acolhimento para vítimas de crimes, em especial crianças e adolescentes.
“O espaço foi pensado para ser acolhedor, com elementos que lembram uma casa e não um ambiente institucional. Isso ajuda a criança a se sentir segura para falar”, afirma Denise Silveira, gerente do CEAVida.
Além de atendimento psicológico e social, o centro também oferece suporte a familiares e a vítimas que ainda nem chegaram ao Judiciário, ampliando o alcance da política pública e promovendo a prevenção.
A proposta de levar essa formação para professores e gestores parte do entendimento de que a escola é um dos poucos espaços seguros fora do lar para muitas crianças. E o professor pode ser a única pessoa capaz de perceber, acolher e acionar os serviços de proteção.
Durante a formação, os participantes aprenderão a identificar sinais físicos e comportamentais de abuso, conhecerão os caminhos legais para denúncia e entenderão como lidar com os traumas que muitas vezes se manifestam em silêncio — no comportamento, na queda de rendimento escolar, na evasão.